segunda-feira, 25 de junho de 2012

Alan Moore



Escrevendo histórias cheias de contextualização política e social e referências culturais adultas, Moore criou uma série de histórias e heróis inesquecíveis que, invariavelmente, tocavam em um assunto no mínimo curioso (e de conseqüências devastadoras dentro e fora das HQs): o que aconteceria se os heróis existissem de verdade. A moda dos heróis mais humanizados, que sentiam remorso, choravam e tinham até de fazer a barba, já não era uma novidade nos quadrinhos desde os anos 60. As histórias de Alan Moore, no entanto, não falavam de heróis humanizados e sim de super-heróis convivendo – em alguns casos, apenas tentando sobreviver – no “mundo real” dos humanos.

Moore começou sua carreira tentando ser desenhista, no final dos nos 70, com uma tira chamada Maxwell, the Magic Cat, publicada no jornal de sua cidade natal (e na qual mora até hoje), Northampton. Com “dotes artísticos duvidosos” (segundo ele mesmo) e trabalhando sem receber, Moore logo desistiu da tira, mas acabou entrando na divisão inglesa da editora Marvel após ter alguns de seus roteiros analisados.A partir de então, começou a escrever histórias para a revista de ficção científica 2000 AD e para o semanário Doctor Who. O Milagre (literalmente) aconteceu no início dos anos 80, quando o autor escreveu para a revista Warrior a série Marvelman, que logo a seguir, em 1985, foi publicada nos Estados Unidos com o nome de Miracleman, ou Homem do Milagre.

Em Miracleman, Moore pegou um elenco ingênuo de personagens baseados na família Marvel (o “Shazam”) dos anos 50 e os jogou em um mundo sombrio e realisticamente corrompido. Na série (que chegou a ter três números publicados no Brasil pela extinta editora Tannos, em 1989), o autor mostrou o que acontece quando um herói bom, de poderes quase divinos, se depara com a crueldade do mundo real e, ainda, o que acontece quando o dono de superpoderes é apenas um típico adolescente confuso e em crescimento.
A revista estourou nos Estados Unidos e a Marvel americana resolveu chamar o inglês para escrever um de seus grandes títulos, o Monstro do Pântano, cujas vendas estavam caindo. “Eu havia mostrado que podia escrever quadrinhos de super-herói de um jeito que ninguém sabia. E como as vendas do Monstro estavam caindo, tive o terreno perfeito para pisar e fazer o que eu quisesse. O personagem já estava ruim e não havia nenhuma pressão, afinal eu não poderia estragar coisa alguma.”

Moore acabou revitalizando o Monstro do Pântano (que se parece com a barba de Alan, dizem as más línguas). Primeiro, encaixou nas histórias lobisomens, vampiros e uma série de espíritos furiosos. Depois começou a trabalhar mais a fundo os aspectos emocionais e psicológicos da criatura que, até então se pensava, era um homem transformado em planta. Moore mudou a história, encantou os fãs e deu novos rumos ao personagem com a revelação de que, na verdade, tratava-se de uma planta que pensava um dia ter sido homem.

Heróis de verdade
O sucesso com o Monstro do Pântano deu oportunidade a Moore para trabalhar com os super-heróis de primeiro time e ele foi chamado pela DC Comics, concorrente da Marvel. Nesta época, produziu roteiros para a revista do Super-Homem, nos quais a temática do herói no mundo de verdade começou a voltar à tona. Em uma delas, “O que aconteceu com o homem-de-aço?”, fez com que o Super-Homem tivesse sua identidade revelada, o que acabou gerando uma caça aos amigos do herói (Lana Lang e Jimmy Olsen morrem na HQ) e sua aposentadoria precoce por trás de uma falsa morte. A HQ, com desenhos de Dave Gibbons, só não causou mais impacto porque foi publicado no selo “Else Worlds”, ou seja, uma história do tipo “o que aconteceria se”, fora da cronologia oficial do herói.

Pouco depois, no entanto, Moore pegou pesado com a história Batman: a Piada Mortal, essa sim publicada como parte “oficial” da hitória do personagem (no Brasil, lançada pela Abril em 1988 e relançada no ano passado). Na HQ, desenhada por Brian Bolland, o autor faz com que o Coringa sequestre o comissário Gordon e o torture, em uma tentativa de mostrar que qualquer um pode ser tão louco quanto ele se tiver “a motivação certa”.

O mundo real entra com tudo na cena em que o Coringa, ao invadir a casa do Comissário Gordon, atira na filha do policial, Bárbara, e a deixa aleijada da cintura para baixo (a personagem permanece até hoje nestas condições). Além disso, o Coringa fotografa a ex-batgirl sem roupas e sangrando, e exibe as fotos para Gordon. Mais uma vez, estouro de vendas.

Watchmen
Mas a consagração de Moore – e dos quadrinhos como leitura adulta – veio com a macrossérie Watchmen (transformada em filme em 2009), desenhada por Dave Gibbons e lançada no Brasil em 1988. A série começa com o surgimento de um grupo de super-heróis, ainda no governo Nixon. Com a ajuda deles, os Estados Unidos vencem facilmente os confrontos com Coréia e Vietnan. Mas o mundo começa a temer os super-seres, a polícia reclama que eles estão tomando o seu lugar e os governos decidem então, regulamentar o trabalho – Watchmen, ou vigias, é uma refrência uma frase de alerta do povo contra os super-heróis: quem irá vigiar os vigias? (Who is gonna watch the watchmen?).

Os super-heróis que não se rendem às leis são mortos misteriosamente ou viram foras-da-lei. A série pula, então, para um misterioso 1985 onde coisas estranhas começam a acontecer e os antigos super-seres decidem reaparecer para investigar, gerando revolta e medo na população. Moore ganhou uma série de prêmios com a história e mostrou que é possível escrever quadrinhos usando metáforas, referências bibliográficas, músicas, recortes, flashbacks e uma série de outros recursos inéditos ou pouco explorados até então.

O sucesso da série fez que as editoras de todo o mundo relançassem outra obra do autor, V for Vendetta (V de Vingança, lançado no Brasil pela Abril em 1990 e pela Via Lettera em 1999). Nesta história, com a qual já havia conquistado prêmios literários ingleses em 1982 e 83, Moore transforma Londres em um verdadeiro cenário de 1984, de George Wells, com um governo ditatorial que não admite sequer meios de cultura como discos e livros antigos, por considerá-los subversivos.

Com alto teor político, psicológico e cultural, V de Vingança é considerado uma obra de arte e irritou políticos ingleses como a dama-de-ferro Margaret Tatcher, que – segundo o autor – inspirou boa parte do cenário de terror da Londres então “futurista” de 1997. “No governo dela estavam se propondo leis contra a existência de homossexuais e outras minorias. O futuro que eu contava na minha história, infelizmente, parecia muito provável naquela época”, conta Moore.

AFASTAMENTO E VOLTA
O sucesso de Watchmen acabou irritando o autor (“fiquei de saco cheio de super-heróis como um meio de expressão sério”) – que virou astro pop com direito a participação no desenho dos Simpsons -e ele decidiu se afastar no final dos anos 80 de histórias comerciais e de super-heróis. Só em 1993 Moore voltou à ativa, com roteiros para o personagem Spawn (a cria do inferno) e o grupo GEN-13.
E mais uma vez não parou mais: entre outros trabalhos vieram From Hell (baseado na obra Jack The Ripper: The Final Solution, do escritor de terror Stephen King, que apresenta o médico real Sir William Gull – o homem que descobriu a anorexia – como sendo o assassino JacK Estripador) e o erótico Lost Girls, com desenhos da esposa Melinda Gibbs.

Alan detesta, declaradamente, a idéia de adaptarem suas obras para o cinema e nunca se envolve nas produções.


Fonte: WikipédiaBlog Heróis HQ

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